... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano IV Número 45 - Setembro 2012

Conto - José Miranda Filho

Cool Jazz, by Debra Hurd

Encontro de Amigos - Parte 10

O amanhecer do dia 28 de outubro foi muito frio e nublado. Não um frio cortante com ventos fortes, mas um frio úmido. Hoje é domingo, aqui e no resto do mundo. Logo cedinho, expressão literária não muito verdadeira por aqui, porque cedinho na Irlanda é perto de 10 horas, partimos para Cork.

Edward, além de ser escritor e trabalhar numa empresa multinacional na Irlanda, também faz parte de uma banda musical formada por engenheiros, analistas, médicos, que se apresenta em eventos sociais e beneficentes. Hoje eles iriam se apresentar na cidade de Cork e nos convidou para acompanhá-los. De pronto aceitamos o convite. Partimos para Cork.

Cork, como já descrita anteriormente, situa-se na costa sul da Irlanda. É uma cidade primordialmente musical, artística e artesanal. Sua cultura é muito difundida. Seu campus universitário possui aproximadamente 14.500 alunos matriculados nos estabelecimentos educacionais da cidade, freqüentando cursos de enfermagem, odontologia, terapia em todas as áreas, medicina, artesanato, artes manuais, música, desenho, farmácia, etc, além da famosa Faculdade de Medicina e Saúde.

Chegamos a Cork de manhãzinha. Ainda tivemos tempo de ver o luar através das montanhas, refletindo nas águas do Oceano Pacífico, e depois vimos a luz do sol que surgia brilhando nas montanhas distantes. Fizemos como sempre fazemos ao chegar em algum lugar: um giro pela cidade para conhecer seus pontos turísticos e culturais. Como Cork não é uma cidade grande, em pouco menos de três horas havíamos visitado todo o centro. Às 14 horas, paramos para o almoço, e à noite fomos ao teatro assistir a apresentação da banda em que Edward atua.

Confesso que gostei. Ouvi musicas inéditas. Para mim que não conhecia o repertório musical da Irlanda, a não ser do U2, quando esteve no Brasil. Foi muito interessante. Não sou muito apreciador desse tipo de música. Confesso que rock e outros tipos da mesma natureza não me atraem. Gosto de ouvir boleros, sambas canções, músicas do tipo romântica e do passado. Sou do tempo em que se chorava por um amor perdido. A paixão dói. Quando acaba o amor, as músicas ajudam a esquecer o sofrimento do amor perdido.

Após o show que lotou o teatro - aproximadamente 300 pessoas - a banda foi aplaudida de pé pela brilhante apresentação e principalmente pela nobre causa social, como disse o responsável durante a apresentação: “o cachê vai para as crianças necessitadas da cidade”.

Depois do show fomos jantar nas imediações do teatro que ficava próximo do hotel onde estávamos hospedados. Depois do jantar fomos caminhar pelas ruas da cidade, sem destino. Rumo norte, destino zero! Sem novidades! Apenas andamos por algumas ruas. Eva não gosta muito de andar, tem problemas de circulação nas pernas, por isso paramos.

Permanecemos em Cork naquela noite. No dia seguinte, logo pela manhã retornamos a Dublin, onde permaneceríamos até o dia 10 de Novembro, atendendo ao pedido de Edward para permanecermos na cidade e participar da festa de aniversário de Arlington, seu filho que completaria 18 anos no próximo dia 10.

A festa de Arlington estava ótima. Muito agradável e bem divertida.

Edward apresentou-nos alguns de seus amigos residentes em Dublin, presentes à festa, entre eles Junior, um brasileiro, proprietário de uma empresa de terceirização de serviços, radicado na Irlanda há dois anos, e Rick, um engenheiro eletrônico, também brasileiro e residente em Cork, cidade em que estivemos por duas vezes. Fez absoluta questão de nos apresentar também e muito especialmente, como ele disse, um casal de irlandeses residente em Belfast: Mr. Foster e Madame Anne, sua esposa. Conversamos bastante.

Mr. Foster nasceu no condado de Kilkenny, e aos nove anos de idade seus pais se mudaram para Cork, onde ele se casou com Anne. Estudou artes plásticas e desenho, porém formou-se em arqueologia. Atualmente ele mantém um amplo centro cultural onde leciona, desde artes plásticas, artesanatos e desenhos, até gravuras e pinturas em tela e folclore de diversos países, inclusive do Brasil. Também são estudados, ensinados e pesquisados, literatura de cordel das regiões do nordeste brasileiro. Fiquei deveras curioso para saber como um irlandês se interessou tanto pela cultura do Brasil. Perguntei a Mr. Foster e ele simplesmente me respondeu – “Já estive no Brasil pesquisando o folclore dos estados de Fortaleza, Bahia e Maranhão”.

Como marchand e colecionador de obras de arte Mr. Foster dedicou muito do seu tempo ao estudo e pesquisas de nossa cultura. Formou-se em arqueologia, porém, deixou de exercer a profissão a partir do dia em que desembarcou no Ceará e se encantou pelos trabalhos artísticos, artesanais, cerâmicos e musicais dos artesãos da cidade. E assim foi em Salvador, Maranhão e em particular Pernambuco, cidade que o fascinou pelo conteúdo musical e cultural.

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